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Mercado Transitário 2025: Contração ou oportunidade de reinvenção?

13 Ago
Os primeiros indicadores de 2025 sugerem um abrandamento no mercado transitário: que fatores poderão estar por trás desta nova tendência, depois de um 2024 bastante pujante?
O ano de 2024 ficou marcado por uma retoma significativa no setor Transitário, impulsionada pela normalização das cadeias logísticas após a pandemia, pela reativação de rotas comerciais e pelo aumento do comércio internacional em certos blocos económicos. Para 2025, contudo, o cenário afigura-se outro: os mais recentes estudos prevêem um abrandamento com possível contração que pode até estender-se a 2026. Quais os motivos desta inversão? E pode ser este contexto a deixa para novas reivenções estratégicas?

Do forte crescimento em 2024 ao abrandamento em 2025

Os primeiros indicadores de 2025 sugerem um abrandamento no mercado transitário: que fatores poderão estar por trás desta nova tendência, depois de um 2024 bastante pujante? Em primeiro lugar, é necessário constatar um motivo óbvio: a redução da procura global. As principais economias mundiais, como os EUA, a UE e a China, têm mostrado sinais de desaceleração. A inflação persistente em algumas regiões, combinada com taxas de juro elevadas, tem afetado o consumo e, por consequência, o volume de trocas comerciais.

A juntar a esse fator temos, também, o excesso de capacidade: após os constrangimentos logísticos patentes nos anos de 2021 e 2022, muitas operadoras investiram no incremento da sua capacidade, investindo em frota e novas infraestruturas. Com a procura a abrandar, verifica-se agora um excesso de oferta, levando à queda nas tarifas de transporte — especialmente no Shipping. Aliado a este fator está também uma - cada vez mais clara - mudança nos padrões de produção e consumo, espelhada numa tendência crescente para a deslocalização (nearshoring) e para cadeias de abastecimento mais curtas, reduzindo o volume de transporte internacional e impactando diretamente os transitários.

Alheio a este contexto logístico global não estará, certamente, o fator geopolítico e diplomático. Num mundo que por vezes equilibra-se entre o ímpeto globalizador e o conflito e fragmentação geopolítica, a movimentação estratégica dos diferentes blocos dominadores gera impactos diretos na Logística mundial, aos quais os Transitários não são indiferentes. A 'guerra de tarifas' imposta por Donald Trump, veio baralhar as contas e destabilizar várias relações comerciais entre nações. Conflitos regionais, como o no Mar Vermelho, sanções comerciais, e a instabilidade em certos corredores logísticos estratégicos têm também  trazido custos e riscos acrescidos ao setor.

Oportunidade no meio da incerteza

Apesar dos sinais de contração, o momento é também de transformação — e os transitários têm um papel vital nesta transição. Habituados a desafios constantes e a cenários totalmente imprevisíveis, os transitários deram a inequívoca prova disso durante o flagelo da pandemia de COVID-19, tendo, depois disso, enfrentando vários constrangimentos globais aos quais deram resposta cabal. Perante este cíclico contexto de abrandamento, ao qual estão também habituados, existem várias chances de dar um passo em frente e contrariar a incerteza e a inércia.
 
Apostar em Digitalização e automação, investindo em tecnologia para agilizar operações, dar visibilidade aos clientes e automatizar processos; desta forma, as empresas transitárias estarão mais preparadas para resistir a pressões marginais. Apostar em serviços de valor acrescentado: a diversificação dos serviços, como consultoria logística, gestão alfandegária integrada ou soluções 'verde', pode ser uma via para compensar a diminuição de volumes. Abordar a temática da Sustentabilidade com renovada estratégia, posicionando-se na descarbonização da cadeia logística de modo a encontrar oportunidades e novos parceiros no processo de transição ecológica.

Como encarar o desafio: são vários os trunfos prontos a serem jogados

  • Planeamento estratégico e flexibilidade: Preparar cenários diversos e ajustar rotas, serviços e parceiros com agilidade.
  • Formação contínua: Apostar nas competências digitais e na formação contínua dos recursos humanos.
  • Colaboração e representação setorial: As associações como a APAT têm um papel fulcral na defesa dos interesses do setor, na promoção de boas práticas e na criação de redes de apoio mútuo.
Embora os sinais atuais apontem para uma provável contração do setor transitário, esta não deve ser encarada como uma crise, mas como uma reconfiguração, que abre portas para novas abordagens estratégicas e novas perspetivas sobre o desenvolvimento da atividade. As empresas que,  conseguirem ler o contexto, adaptar-se e inovar - recorrendo a apostas de desmaterialização e agilização de procedimentos mas também a Formação contínua dos seus quadros e ativos - serão aquelas que não só resistirão, como também liderarão a nova fase do mercado.

«Pouca novidade resta já para os Transitários, tão habituados que estão a sucessivos, e muitos deles até inéditos, desafios. Trata-se de mais um ciclo. Devemos estar atentos, e, em conformidade, alavancar os trunfos que, como a APAT vem repetindo, estão aí para serem capitalizados: Digitalização, Sustentabilidade e Formação contínua. Estes são pilares, que, para nós, são inamovíveis: é neles que assenta o sucesso do presente e do futuro. Apostar na digitalização é desmaterializar, agilizar e dinamizar, de ponta a ponta, processos, compliance e relação com o cliente.  Apostar na Sustentabilidade é agarrar oportunidades nesta fase de transição, na qual existem incentivos para a transformação de mentalidades, e que serão colhidos brevemente. E apostar na Formação, essencial para que as empresas possam ter ativos capazes de fazer a diferença e de acompanhar as novas exigências do mercado», comentou o presidente executivo da APAT, António Nabo Martins.

Foto: Free-images.com | Pixabay
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