Em artigo redigido a convite da revista
eMobilidade, que integra a publicação '
Eurotransporte', o presidente executivo da
APAT, António Nabo Martins, abordou a sempre controversa temática da bitola ibérica e a inerente questão da interoperabilidade com o resto do velho continente, no âmbito do transporte internacional de mercadorias. Pode aceder ao mais recente número da eMobilidade
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«A questão da bitola ibérica é um tema complexo com implicações significativas para a interoperabilidade ferroviária entre a Península Ibérica e o resto da Europa. Mas também é verdade que não é o único problema quando falamos de Interoperabilidade», começa por enquadrar António Nabo Martins. «Quando falamos de interoperabilidade ferroviária em Portugal, somos imediatamente enviados para uma e só palavra – bitola», mas, salienta, «os problemas com a interoperabilidade ferroviária na Europa incluem uma grande diversidade de variáveis de país para país».
«A falta de harmonização de sistemas de sinalização, corrente elétrica e gestão de tráfego (como o ERTMS), com a consequente incompatibilidade de material circulante e ate o próprio idioma que deve ser utilizado por todos os agentes responsáveis por comboios transfronteiriços, depois, e não menos importante, a falta de investimento em infraestrutura e material circulante» - são alguns exemplos dessa lista de variáveis, o que torna o debate ainda mais complexo e muito mais dinâmico em termos de argumentário.
«A título de exemplo refira-se que o projeto europeu ERTMS visa substituir todos os sistemas de sinalização existentes na Europa por um único sistema concebido para promover a interoperabilidade entre as redes ferroviárias nacionais e o transporte ferroviário transfronteiriço. O ERTMS visa assegurar uma norma comum, que permita a circulação ininterrupta de comboios por vários países, e, assim, promover a competitividade dos caminhos de ferro. Ou seja, segurança. Mas falta a tração elétrica, o material circulante, o idioma, a infraestrutra, a supraestrutura e até infoestrutura e claro está, no caso da Península Ibérica a bitola», vinca o presidente executivo da APAT.
O que trava, então, os operadores ferroviários? A resposta é simples: «investimento», que, vinca, é elevado. De tal forma, que «muitos não vislumbram retorno e por isso mesmo não avançam a velocidade alta e muito menos em alta velocidade». Aludindo ao exemplo da vizinha Espanha, Nabo Martins explica que tem sido feito um «enorme investimento» em termos de alta velocidade nos últimos 30 anos, período no qual, pelo contrário, Portugal «desinvestiu». Espanha «tem igualmente investido nas suas conexões fronteiriças com França para mercadorias». A pergunta que não quer calar: «'Porque é que o tráfego ferroviário de mercadorias continua a perder quota de mercado?»
«Já que não temos olhado para a ferrovia, pelo lado do ambiente ou defacilitar a vida e a mobilidade de pessoas e bens, porque não aproveitar a nova “politica” de investimentos, por mor da defesa e da guerra, para olharmos para a ferrovia como elemento fundamental para a logística, seja ela militar ou civil?», termina António Nabo Martins.
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