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Ana Duarte (F Rego) em artigo de reflexão: Inteligência Artificial, Riscos Naturais

19 Abr
Na era tecnológica, um ano pode representar mudanças radicais no panorama mundial. Foi isso mesmo que ocorreu com a revolução provocada pela Inteligência Artificial (IA) generativa, que viu o lançamento do ChatGPT espoletar um conjunto de ferramentas, softwares e canais que rapidamente transformaram o paradigma da generalidade dos setores de atividade.

Os impactos positivos da IA são transversais à sociedade e à economia. A automatização de tarefas repetitivas e criativas, libertando tempo e recursos para atividades mais complexas e inovadoras, traduz-se na valorização do talento e no aumento da produtividade. Simultaneamente, a precisão e celeridade das análises e diagnósticos aumenta de forma significativa, conjugando-se com o surgimento de produtos e serviços inovadores, que garantem maior qualidade de vida. Num verdadeiro ciclo criativo, em que uma nova solução dá imediatamente origem a um diferente desenvolvimento, as transformações continuarão a impactar e servir os mais diversos quadrantes do panorama global.

O advento da IA inaugura um novo mundo de oportunidades, mas acarreta igualmente sérias e preocupantes consequências. Esta é a conclusão mais imediata do Global Risks Report 2024 do Fórum Económico Mundial (WEF, na sigla em inglês), que posiciona os impactos da IA no segundo lugar (53%) das maiores ameaças mundiais para a próxima década, apenas superado pelas alterações climáticas (66%).
 
Num ecossistema movido por processos automatizados, cada progresso caminha lado a lado com uma crescente exposição ao risco. Com um enorme potencial para áreas decisivas da sociedade, como a saúde, educação e transportes, a adoção desta tecnologia generativa expõe Pessoas e Organizações a ameaças que exigem uma monitorização, acompanhamento e mitigação de elevada exigência e preponderância. Perante um cenário de enorme complexidade, o WEF mapeia um conjunto de áreas de particular sensibilidade moral, legal e operacional.
  • Erosão da privacidade

A IA é e será crescentemente utilizada para recolher e analisar grandes quantidades de dados, nomeadamente através de reconhecimento facial, rastreamento online ou historial de saúde.nAs violações de privacidade tornam-se particularmente suscetíveis, e são exponenciadas pelo acelerado e transversal crescimento dos ataques cibernéticos, muitos deles recorrendo a esta mesma tecnologia.
 
  • Polarização social

A manipulação da opinião pública através dos denominados deepfakes (vídeos e áudios distorcidos ou totalmente artificiais) e dos bots tem-se multiplicado em todo o Mundo, afetando eleições políticas, a reputação de personalidades e a imagem de Organizações.
Em sistemas cada vez mais polarizados, estes fenómenos contribuem para o aumento da desconfiança nas instituições, a escalada dos conflitos sociais e violentos, e à acelerada erosão da coesão social.
 
  • Dificuldade de controlo e acompanhamento:

A acelerada evolução da IA, passível de ser realizada por quaisquer indivíduos ou Organizações, pode elevar os níveis de complexidade de tal forma que se torna altamente complexo prever o seu comportamento ou evitar ações não planeadas. Do mesmo modo, a adaptação do quadro legislativo dificilmente consegue acompanhar, em tempo e eficácia, o ritmo das transformações, originando vazios legais de complexa resolução.

É incontestável o potencial da IA para melhorar a vida de milhões de Pessoas, otimizar processos e acelerar as receitas das Organizações. Contudo, o efetivo potenciamento desta implica uma monitorização legal e mitigação de risco adequadas e especializadas, que permitam proteger Empresas e Pessoas perante as importantes transformações que estão a ocorrer.
 
Ana Duarte, Diretora-Geral UN Lisboa da F. REGO

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