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Dois caminhos para Portugal

23 Out
Na Associação Comercial do Porto vemos as questões ligadas às infraestruturas e aos transportes como decisivas para a qualidade do desempenho económico. Seja a nível local, regional ou nacional, a rede física e a capacidade instalada são muitas das vezes o mais relevante fator de sucesso, como podem ser, por motivo de insuficiências várias, o maior entrave ao crescimento. Ao longo dos anos, dedicámos recursos, empenho e saber da Associação Comercial do Porto a investir, a projetar e a estudar um vasto conjunto de temas indiscutivelmente relacionados com o hardware e o software do nosso sistema de transportes e da nossa cadeia logística. Preocupam-nos as opções em matéria de investimento público infraestrutural e motiva-nos a conjugação das melhores condições para que as empresas trabalhem melhor e criem mais valor, para que o emprego possa crescer e qualificar-se e para que a qualidade de vida, no Porto e no Norte como em todo o país, seja uma realidade em constante melhoria.
Perante a maior crise económica e social de que teremos memória, numa época marcada por profundas transformações nas relações internacionais, nas políticas comerciais e nos próprios mercados, tudo o que para nós é certo é que estamos perante diversas perguntas sem resposta clara, que se avolumam numa monumental incógnita.
Vamos (em breve) começar a receber fundos comunitários para procurar recuperar do brutal impacto económico da pandemia. Temos a obrigação nacional incontornável de garantir que o investimento será criterioso, transparente, multiplicador e proveitoso.
E temos dois caminhos possíveis para a recuperação.
O caminho bom, que consiste em preparar, debater e aprovar um plano de recuperação. Estaremos todos de acordo ao concordarmos que a base de debate e de aprofundamento será o documento apresentado por António Costa e Silva. Precisamos de um verdadeiro plano de reforma nacional, que nos modernize, qualifique e habilite a ser coesos como sociedade, equilibrados enquanto nação e competitivos enquanto economia. Não precisamos de muitas folhas de cálculo e de imensos diagnósticos.
Uma vez que já temos os meios (os fundos de Bruxelas) garantidos, aquilo de que realmente precisamos é de uma equipa executiva. Um plano que aponte prioridades (poucas), um orçamento (para cumprir) e um cronograma (que não se enrede nas burocracias do Estado). E, em simultâneo, uma pequena equipa de gestores (que não precisam, pelo contrário, de ser consagrados), disposta a dedicar quatro ou cinco anos das suas vidas a materializar um país com futuro.
Precisamos de fazer aquilo que andámos a debater à exaustão: a ampliação dos portos de Leixões e de Sines; a construção de uma rede ferroviária rápida e digna desse nome - Lisboa/Porto/Vigo, Aveiro/Viseu/Salamanca e Sines/Évora/Badajoz; o novo aeroporto do Montijo e a ampliação do aeroporto do Porto; a melhoria da conectividade das plataformas logísticas; a transição energética no âmbito do "Green Deal"; a reconversão industrial, apontando para a modernização dos sectores tradicionais; a ampliação das redes de metro no Porto e em Lisboa.
Este é um caminho. O caminho inteligente, lógico e sensato. Podemos eventualmente não o querer seguir. E continuar o desperdício, a delapidação de recursos, o aumento da espoliação fiscal e continuarmos a estar no pódio dos mais pobres e atrasados da Europa. Mas não vale a pena explicar o mau caminho. Já o conhecemos bem.
 
Nuno Botelho
Presidente da Associação Comercial do Porto

 

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